Não vou esquecer do dia em que percebi estar emocionado ao invés de apaixonado. Influenciado por n fatores e não por um sentimento legítimo de reciprocidade.
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Eu esperava o farol abrir para atravessar a rua, quando me dei conta de que não conseguia responder à pergunta: Mas por que eu gosto dele? Minha analista me fez a mesma questão semanas atrás e eu fiquei sem uma resposta; até gaguejei, tentando encontrar motivos. Saí da sessão com isso martelando a minha cabeça, já que eu queria respostas concretas (como uma boa pessoa com o sol vibrando em Terra Cardinal).
Em casa, enquanto lavava a louça, refleti: Eu estava só emocionado, e não apaixonado. Como eu consegui me fazer acreditar que poderia ser amor? Tentei responder à pergunta da analista, e nada. Aquele momento foi como o girar da chave que liga o motor e desencadeia reações impossíveis de interromper.
Tudo o que senti e fiz por semanas não fazia mais sentido algum. Eram atitudes conscientes, de fato, mas o que elas queriam dizer? Para onde estavam me levando? Fui para o quarto me sentindo perdido, como se eu estivesse caminhado inconsciente e, desperto do transe, dissesse Como eu vim parar aqui?. Depois de algumas respirações para oxigenar o cérebro, veio uma sensação de alívio que eu não sentia há um bom tempo. Como se o nervosismo se dissipasse no exato momento em que a cortina do teatro é aberta, sabe?
Perguntas como Mas como você sabe que não era paixão? E se você estiver enganado? Era incômodo? Mas já foi prazeroso, né? pululavam na minha mente muito rápido, mas eu não tinha respostas para elas. Não tenho.
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Dentre todas as questões que surgiram, uma ecoa até hoje: Se continuássemos juntos, será que a minha admiração por ele desapareceria e nossa relação ruiria? O interesse se perdeu antes mesmo que eu pudesse ter uma resposta. Mas no fundo, sei que foi melhor assim.
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