Sabia que toda vez que deito para dormir e crio um futuro que não sei quando vai chegar, eu penso em você? Me imagino num palco, tocando violão ou piano, num karokê bar com plantas, luz do sol e mesas com amigos rindo e se abraçando. Começo uma canção qualquer e te vejo em meio à multidão. À princípio, e imperceptivelmente, me assusto. Finjo não vê-lo, mas o coração disparado me denuncia. As mãos começam a suar, eu perco rapidamente a concentração, mas volto para os acordes de, talvez, uma música triste. Torn da Natalie Imbruglia? A Thing About You da Roxette?
É engraçado como esse pensamento mudou de forma diversas vezes. Mas em todas, a vontade é a mesma: te encontrar acidentalmente. É engraçado também que eu tenho a sensação de que isso vai acontecer um dia. Não em um karaokê bar com violão e piano, e também não pelo fato de sermos vizinhos – o que aumenta nossas chances, claro, mas simplesmente porque vai acontecer. Não me pergunte o porquê dessa sensação; eu também não sei.
E é curioso que pouco tempo atrás a sua lembrança me incomodava. Você estava por perto em pensamentos aleatórios e até em sonhos com os mais variados enredos. Mas um dia, e não me atrevo a dizer “num passe de mágica”, esse incômodo passou. E eu comecei a aceitar a ideia de que te encontrar na rua, quando a quarentena acabar, não seria uma má ideia.
Quando me dei conta disso, devo ter sorrido. Não lembro. Se não, certeza que me senti aliviado; que era justamente o que eu queria. Eu não queria guardar uma sensação ruim quando você viesse à memória – até porque, consigo lembrar detalhes do dia em que a gente se conheceu – mas era exatamente o que estava acontecendo e eu não podia controlar.
Faz um tempão que a gente não se vê, não se fala, nem troca figurinhas de sentido duvidoso no WhatsApp. E mesmo que nada disse passe pela sua cabeça, você é um cara que eu gostaria de poder acenar, ainda que de longe, quando nos cruzássemos nos rolês.
Te vejo por aí. Talvez.
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