Todo dia é uma batalha diferente.
Todo dia eu preciso provar a mim mesmo que sou capaz de fazer o que faço. E quando faço, encontro algo em que poderia melhorar.
Quando escrevo – se a inspiração vem – leio, releio e publico. mas quando vou ler de novo, penso em algo que poderia ter escrito diferente.
Todo dia eu me sinto um pouco insatisfeito por não ler o suficiente, não escrever o quanto quero e não estudar o quanto devo.
Penso em situações que poderiam ter sido diferentes se eu tivesse agido diferente; mesmo que em boa parte delas tudo não dependesse só de mim.
Tento entender o porquê de tanta exigência. Quando foi que a vida me deixou de ser leve e tornou-se um ciclo interminável de cobranças?
Mas nem tudo são dores. Ainda bem.
Toda vez que termino de escrever, me vem a sensação de dever cumprido.
Toda vez que termino de ler um livro, me sinto mais perto de bater a meta anual.
Cada job que começo, às vezes meio perdido, e termino, sinto um alívio porque provei pra mim, outra vez, que não sou uma farsa.
Cada vez que vou à terapia e falo tudo o que sinto, sem receio de parecer ridículo com cada coisa que brota na minha cabeça, saio feliz com meu café sem açúcar.
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Confesso que é bem difícil lidar com essa cobrança toda. Mesmo eu sabendo que não precisa ser desse jeito, metade de mim é assim.
É a metade que me faz ver só névoa quando o dia está ensolarado.
É a metade que faz com que eu me sinta sozinho cercado de gente.
É a metade que me sabota quando o vento está a meu favor.
Mas para ela existe
a metade que me traz paz quando as coisas não saem como eu espero.
A metade que me faz estar presente no lugar certo, na hora certa.
A metade que não olha pra trás, vai e faz.
A metade que aprecia o pôr-do-sol, um bom livro e uma bela trilha sonora.
A metade que se assusta com filmes de terror, chora nos dramas e ri nas animações.
Eu ainda estou aprendendo a lidar com essa dualidade.
Capricórnio com aquário,
Intensidade e inércia.
Sol e chuva.
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