Fui instruído, digamos assim, a escrever uma carta e queimá-la. Pela falta de prática, minha letra-garrancho tornou-se um enigma até para mim. Um e-mail, então.
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Estou preso em Special da HAERTS há 3 dias. Eu apreciava a música pela melodia, em perfeita harmonia com a voz da Nini Fabi e a intensidade dos violinos. Então li a letra: forte e triste! Meu perfil na last.fm mostra que já ouvi umas 30 vezes; certamente foi mais. Há uma infinidade de plays não registrados, de tardes inteiras no repeat.
Por quê esta canção, se o álbum inteiro é uma obra prima? Não sei, mas ela me remete a você.
De novo não. Nada, ABSOLUTAMENTE NADA, justifica. Mas meu cérebro insiste em trazer lembranças novas que eu acreditava esquecidas. Eu o compreendo. Estou cercado de “vários você” que pulam na minha frente quando eu nada posso fazer.
Give me a thousand fights we lost inside our heads
Dia desses te vi almoçando. Você vestia aquela camisa xadrez que tentei usar, mas que ficara exageradamente apertada no meu braço, limitando o movimento dos ombros. Te olhei de longe e sorri por dentro. Você continua tão bem quanto a última vez em que nos vimos, naquela vez em que eu disse “Promete que não vai se esquecer de que você é especial?“; “Não vou!“, você respondeu e me beijou. Nos despedimos. Para sempre.
Você sabe que eu segui em frente, e eu sei que você também. É que às vezes eu olho para trás e penso, caralho, que saudades.
Por mais contraditório que pareça, eu tenho um carinho e respeito por ti. Você me ajudou a acessar partes esquecidas de mim, encobertas por tijolos cinzas que criaram uma muralha.
Espero que sua família esteja bem, que o trabalho continue desafiador, que o recém adquirido apê esteja ficando a sua cara e que sua barba continue macia. Lamento por não conseguir esquecê-lo.
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